Quarta-feira, terceiro dia de trabalho.
- Bom dia Cristina!
- Bom dia Silvia.
Sou a primeira a chegar na sala. Acomodo-me e inicio o
meu trabalho. Logo chegam meus colegas de trabalho, nos cumprimentamos e cada
um se concentra em suas tarefas. As horas passaram voando. Mauricio não
apareceu em nossa sala e me sinto aliviada. Já são 10 horas, vou até a copa, me
sirvo com um café. Mais alguém entra na sala, me viro para ver quem é. É a Lia,
que já chega falando.
- Esta tão quieta, parece nervosa. Possa ajudar em alguma
coisa?
- Obrigada, não é nada de mais. Alguns trabalhos puxados
da faculdade. – Tento disfarçar. Sento à mesa para tomar meu café. Lia senta ao
meu lado, percebo que ela quer continuar a conversa.
- E o que está achando do estágio?
- Estou me adaptando ainda. – Respondo.
- E o chefe? O que achou dele?
O chefe? Lia está me perguntando do chefe? O que ela quer
saber? Como não sei o que responder, faço outra pergunta.
- O que eu deveria achar?
- Bom! Você deve estar me achando metida, querendo me
intrometer na sua vida, mas na verdade eu quero lhe alertar.
Meu coração quase sai pela boca. Não temos nenhuma
afinidade. Nos conhecemos a apenas dois
dias e estamos tendo este tipo de conversa. Minhas mãos começam a suar.
- Me alertar do que? – Pergunto ansiosa.
- É sobre o Mauricio. Não sei se você já sabe, mas ele
tem uma certa fama. – Ela para de falar esperando minha reação. Eu a olho
incentivando-a a continuar.
- Mauricio se envolve com todas as estagiarias do
escritório. – Novamente ela para e espera minha reação. Não estou conseguindo
digerir a informação e Lia continua.
- Quer dizer. Mauricio se envolve com muitas mulheres. – Lia
me olha fixamente. Eu não sei o que pensar. Na verdade não entendi porque Lia
está me contando isso.
- Desculpe! Mas, não sei porque você está me contando
isso? – Digo depois de um tempo.
- Bom! – Lia continua.- Só quero te alertar que por você
ser a nova estagiaria do pedaço, provavelmente Mauricio irá te seduzir para
sair com você.
O quê? Eu sair com o chefe? Jamais! Minha respiração fica
ofegante.
- Como assim? Sair com o chefe? – Falo rispidamente. – No
contrato não dizia que uma das funções da estagiaria era sair com o chefe.
Lia me olha. De repente e me pergunto se Lia já saiu com
o Mauricio e infelizmente percebo em seu olhar que já.
- Você já saiu com
o Mauricio? – Isso não é da minha conta, mas, foi ela quem começou com essa
conversa e invadiu o meu espaço. Lia me observa e depois responde.
- Já.
Lia baixa o olhar, parece sem graça. Quem mais será que
já ficou com Mauricio? E porque eu quero saber? Que conversa sem pé nem cabeça.
Mas, agora que começou quero saber o restante. Pergunto para Lia:
- Quem mais já ficou com Mauricio aqui do escritório?
- Hã. – Lia responde com olhar baixo. - Alexia, Jéssica, Fernanda e a Tatiana que eu
sei.
Meu estomago está embrulhando, acho que vou vomitar. Tomo
um gole longo de café para ver se a cafeína ajuda entender tudo isso. Tomo
outro gole e falo rispidamente.
- Isso é ridículo. – Me levanto para colocar a xícara no
balcão. Sinto minhas pernas bambas. Lia continua.
- Tem mais.
- Mais? – Olho para
Lia. – Não sei se quero saber mais.
- Tudo bem! – Lia levanta as mãos em sinal de rendição.
O que mais poderia ser? Na verdade eu quero saber. Não
agüentaria ficar imaginando o que mais poderia ser.
- Me conta logo tudo de uma vez. – Digo para Lia me
sentando novamente à mesa. Lia continua.
- As pessoas comentam que ele faz coleção de mulheres.
Ele fica com muitas mulheres, ele tira uma foto e posta no facebook. Ele tem
uma pasta só com fotos das mulheres com quem já se envolveu.
Fico pasma olhando. Mal consigo piscar.
- E ele fica uma única vez com cada mulher. Até onde eu
sei nunca se envolveu com alguém sério.
Estou de boca aberta. Parece que meu cérebro está dando
curtos e está misturando as informações. Só devo estar sonhando. Ou melhor,
tendo um pesadelo. Isso não pode ser verdade. Acho que Lia tomou algumas coisa
errada hoje.
- Espera ai. Quero ver se eu entendi. O meu chefe é
colecionador de mulheres, não repete figurinha e eu sou a próxima da lista? O
que você colocou no seu café, Lia? – Solto uma gargalhada, isso só pode ser uma
piada.
- Não coloquei nada no meu café. Eu estou lhe passando
algumas informações, para você estar sabendo com quem está se envolvendo.
- E porque você faria isso? Você mal me conhece? – Eu
preciso entender melhor tudo isso. Lia se justifica:
- Para você não se iludir como eu me iludi. Achando que encontrou
o príncipe encantado.
Lia sofreu por Mauricio e está me contando tudo isso para
evitar que mais pessoas sofram. Ou, se sofrerem ao menos sabiam onde estavam
pisando. Mas, como ela tem certeza que
Mauricio tentará me seduzir? Será que ele comentou alguma coisa com ela? Me
arrisco a perguntar.
- O que te leva a pensar que Mauricio me quer em sua
coleção.
Lia cruza os braços.
- É assim com todas as estagiarias novas. Passa alguns
dias, ele joga charme, te convida pra sair e pronto. Ninguém resiste ao seu
charme e ele sabe muito bem disso.
Estou chocada. O café que acabei de tomar parece que está
fazendo uma rebelião em meu estomago. Só pode ser um pesadelo, eu não posso
estar ouvindo isso. Lia se levanta e toca no meu ombro.
- Só estou te alertando. Você faz o que quiser. Se quiser
sair com o mauricio tudo bem pra mim. Desse mau eu já me curei. Boa sorte.
Lia sai da sala. Eu fico sentada mais um pouco tentando
assimilar tudo isso. Mauricio Anton. Meu chefe. Coleciona mulheres. Se diverte
com elas. O que o faz pensar que tem
esse direito. E as mulheres, porque se submetem a esse tipo de situação. São
pegas de surpresas, são iludidas como aconteceu com a Lia. E se ele me convidar
para sair, o que vou fazer? Acho que o melhor que posso fazer é ir em busca de
um novo estagio. Volto para sala. Quando vou para a minha mesa o telefone toca.
- Estagiaria Cristina. – Digo educadamente. Meu coração
congela quando ouso a voz do outro lado da linha.
- Mauricio Antom. Pode vir até minha sala.
- Hã. Sim. Um minuto.
Desligo o telefone. Onde estão as minhas pernas. Não
consigo me mexer. Olho para Lia que devolve o olhar como quem diz ‘eu avisei’. Me
esforço ao máximo eu vou até a sala do colecionador. Respiro fundo e entro.
- Sim. Em que poço ajudar? – Digo rápido. Mauricio está
preguiçosamente sentado em sua cadeira. Mais lindo do que eu conseguia lembrar.
Sinto um frio na barriga quando seu olhar encontra o meu.
- Sente-se aqui. – Ele aponta para a cadeira que está em
frente a sua mesa. Vou até lá e me sento. Minhas mãos estão suando. Preciso me
controlar. Preciso controlar meus sentimentos.
- Você está linda hoje! – Mauricio abre um lindo sorriso
e apóia os cotovelos sobre a mesa e fica ereto na cadeira. Meus músculos se
contraem diante de sua beleza estonteante. Ele já começou a jogar seu charme e
é difícil resistir.
- Obrigada! – Dou um meio sorriso e continuo. – Acredito
que você não me chamou aqui só para me dizer que estou linda. – Respiro fundo e
falo séria. – Então em que posso ajudar?
Mauricio parece desapontado. Mas, logo recupera seu
sorriso e diz:
- Bom vou logo ao ponto porque não gosto de rodeios. Você
é estagiaria nova, trabalha em minha empresa e nosso primeiro contato deixou a
desejar. Acredito que você teve uma péssima impressão minha. – Ele respira
tranquilamente e da um meio sorriso, parece estar lembrando de uma situação
engraçada. Fico vermelha, pois sei muito bem do que ele esta lembrando. Então
continua.
- Para melhorar essa sua impressão sobre mim, uma vez que
trabalhamos juntos, quero lhe convidar para tomar um cafezinho no final da
tarde.
Mauricio para de falar e cruza os braços sobre a mesa
apoiando seu tronco ainda mais para frente, esbanjando sua beleza. Ele está aguardando
confiante minha confirmação para o seu convite. Então Lia tinha razão, ele
realmente não deixa escapar ninguém, ele tem a cara de pau de me convidar para
sair. Não, não e não. Comigo não. Enquanto brigo com os meus pensamentos,
Mauricio não tira os olhos de minha, parece estar lendo minha mente. Meu
coração está acelerado, parece que vai sair pela boca. Me esforço para lhe dar
uma resposta educadamente.
- Desculpe. Mas, estou super enrolada com atividades do
meu curso. Cafezinhos no final da tarde estão sendo excluídos temporariamente
da minha agenda.
Termino a frase e só então consigo respirar. Mauricio
fecha o rosto e muda sua expressão. Acho que está analisando a resposta e
demora a falar novamente. Me sinto sufocada sentada a sua frente, ele realmente
tem um poder sobre as mulheres. Um poder sobre mim. Minha vontade e de sair
correndo. Já que ele não diz mais nada e me adianto.
- Seria só isso. Posso voltar ao meu trabalho? – Ele
pestaneja com a cabeça. Pega alguns papeis que estão sobre a mesa e me entrega
dizendo:
- Faça um relatório desses currículos e me envie.
Pego os papeis de sua mão, cuido para as nossas peles não
se tocarem dou meia volta e saio da sala. Quando estou fora da porta percebo
que estou suando frio. O que vai acontecer agora, com certeza vou ser demitida.
Bom, este emprego está sendo uma caixa de surpresas, a cada dia uma novidade,
ser demitida seria apenas mais uma das ocorrências. Volto para a minha sala.
Sento e me concentro no meu trabalho, consigo finalizar o relatório dos
currículos. Imprimo o relatório para entregar ao chefe. Vou até sua sala, bato
na porta, mas não tenho nenhuma resposta, entro. A sala está vazia, melhor assim.
Deixo o relatório sobre a mesa de Mauricio e saio. Pego as minhas coisas e vou
para casa.
A tarde passa vagarosamente com uma aula exaustiva. A
noite me tranco no quarto para ler alguns livros indicados pelos professores.
Mayara e Carol também estão ocupadas com seus livros. Tomo banho e vou para a
cama. Tento dormir, mas, meu cérebro não desliga. Não consigo parar de pensar
em Mauricio. Primeiro são esses sentimentos loucos que sinto toda vez que estou
próxima de Mauricio. Sentimentos estranhos para mim. Meus romances sempre foram
pacatos e sem sal. E na presença de Mauricio fico sem chão, as pernas ficam
bambas, as mãos começam a suar, perco a respiração. Lembro de seu toque em
minha mão quando nos apresentamos pela primeira vez. Para não bastar tudo isso.
Ainda tem tudo o que Lia me contou. E depois ele me convidou para sair. Adormeço
com Mauricio rondando meus sonhos. Vejo seu rosto e sinto seu toque e eu quero
fugir e não consigo.
Amanheceu o dia. Estou me sentindo dolorida, não consegui
descansar bem. Estou até com medo do que tem hoje para mim. Esta semana está
superando todas as espectativas. Levanto da cama, me arrumo e vou caminhando
para o trabalho. O brilha forte no céu.
O dia está correndo bem. Cada funcionário concentrado em
suas tarefas. Mauricio não apareceu por enquanto. A manhã chega ao fim e todos
tomam seus rumos. Depois de três dias turbulentos, hoje pode-se dizer que está
sendo um dia normal. A quinta-feira termina, estou deitada em minha cama
confortável. Com o notebook ligado estou vendo as postagens no facebook. Os
estagiários que trabalham comigo me enviaram convites de amizade e eu os
aceitei. Entro na página de Lia, olho suas fotos, alguns vídeos que ela havia
postado e quando me dou conta estou procurando Mauricio Anton em sua lista de
amigos. Encontro sua foto, lindo. Sinto um frio na barriga. Como pode um olhar
ser tão penetrante, estou só olhando uma foto e já estou tremula. Penso duas
vezes, mas não consigo resistir, entro em sua página. Preciso ver com meus
próprios olhos as fotos das mulheres. Na página inicial tem somente fotos dele
sempre sozinho, fotos lindas em lugares maravilhosos que jamais vi
pessoalmente. A sua lista de amigos é gigantesca a maior que já vi, parece ser
bem popular, percebo frustrada que a maior parte são mulheres. Abro o link de
fotos, apenas duas pastas, uma denominada como LUGARES MARAVILHOSOS e a outra simples e direta MULHERES. Abro primeiro a pasta dos
lugares maravilhosos, muitas fotos de lugares realmente maravilhosos, deve ser
das viagens que Mauricio faz, deduzo. Algumas fotos dele também, mas novamente
sempre sozinho, nenhuma foto com a família, amigos ou mesmo com uma mulher. Crio
coragem e abro a outra pasta. Fotos de muitas mulheres, mulheres de todos os
tipos, loira, morena, ruiva, alta, baixa, mais velhas, novinhas, enfim uma
diversidade. São muitas fotos. Em cada foto um enunciado, nome completo e
idade. Vou observando as fotos. De repente vejo as fotos da recepcionista, e
estagiarias. Infelizmente Lia estava certa. Eu não queria acreditar
inteiramente em sua história, era melhor pensar que ela estava fantasiando um
pouco as coisas. Mas não. É tudo verdade. Repentinamente saio do face e desligo
o computador. Não quero mais ver nada, não agüento ver mais nada. Adormeço.
Sexta-feira. Nem acredito que está semana está acabando. Acho
que aguento trabalhar mais um dia. Novamente Mauricio não apareceu na empresa e
ninguém comenta sobre ele. Melhor assim. O expediente acaba. Os estagiários
estão alegresconversando. Lia me chama para a roda e Fabio fala alegremente.
- A noite nós vamos ali no barzinho da frente tomar uma
cerveja e dar risada. Quer vir com a gente? – Sou pega de surpresa, na verdade
não estava esperando esse convite. Mas, não vou fazer desfeita com meus colegas
de trabalho, e preciso mesmo me descontrair.
- Pode ser. A noite nos encontramos então. Estou
precisando relaxar.
Fabio da um sorriso e eles continuam conversando. Olho
fixamente para Lia que percebe que eu quero falar com ela em particular. Ela se
afasta um pouco do grupo e pergunta.
- O que foi?
- O chefe não participa dessas reuniões de vocês no
barzinho, participa? – Percebo que estou franzindo a testa.
- Não. Pode ficar tranquila, ele nunca aparece nesse
barzinho. Vai ser bem divertido, você vai ver.
- Tudo bem então!
Despeço-me de todos e vou para casa. Faz dois dias que
não vi Mauricio e no fundo estou sentindo falto disso. Eu não posso me apaixonar.
Não por Mauricio Anton. Esse pensamento continua me atormentando a tarde toda.
Depois da faculdade levei Mayara e Carol até o aeroporto,
elas foram para a casa dos pais passar o final de semana. Estou sozinha no
apartamento e parece tudo tão grande e silencioso sem elas, mas vou ter que
conviver com isso no final de semana. Apesar de não sermos amigas de infância e
trocar nossas confidencias sinto a falta delas quando não estão. Vou para o
quarto me arrumar para tomar uma cerveja com meus novos colegas de trabalho. De
repente estou entusiasmada com a idéia. Estou precisando disso. Cerveja, música
e conversa fiada. Coloco uma calça jeans, blusinha e sapatilha. Arrumo meu
cabelo e faço uma leve maquiagem. Saio de casa. Vou caminhando, pois apesar de
já ter escurecido o barzinho fica somente a duas quadras.
Chego no barzinho, meus colegas de trabalho já estão
sentados à mesa. Fabio muito gentil vem ao meu encontro, me cumprimenta com
dois beijinhos, está cheiroso e muito bem apresentável, é estranho vê-lo com
outra roupa. Somente o tinha visto de uniforme. Diz que estou linda e fico lisonjeada.
Cumprimento todos os outros colegas e sento na cadeira ao lado de Fábio que
parece que estava reservada para mim. Todos estão conversando animadamente
sobre os mais diversos assuntos. O garçom se aproxima e eu peço uma cerveja. Em
alguns momentos participo das conversas, mas na maior parte do tempo fico
ouvindo. Marcelo e Tatiana começam a contar piadas e a noite está muito
divertida. Meus ombros conseguiram relaxar e estou me sentindo bem.
Peço outra cerveja. Percebo que é a primeira vez que me
sinto a vontade na semana. Estou descontraída rindo com meus novos amigos. Lia
está contando suas aventuras de final de semana, de repente para de falar e
olha firme para a porta de entrada. Todos se viram para ver o que Lia estava
vendo, inclusive eu. Mauricio Anton entra no bar, olha em volta a avista nossa
mesa. Meus colegas tentam disfarçar e continuam conversando. Eu não consigo,
meu coração está a mil, que efeito ele tem sobre mim. Meu bem estar passou para
tensão pura. Tento agir naturalmente, mas meu corpo me trai. Lia percebe meu desconforto,
mas não diz nada, somente me olha. Mauricio se aproxima da nossa mesa.
- Boa noite! Posso me juntar a vocês?
Eles está maravilhosamente lindo. Calça jeans, camisa
pólo, barba feita e um perfume irresistível. Todos se entreolham, e Fabio
educadamente responde.
- É claro!
Mauricio pegou uma cadeira
da outra mesa, pediu licença e se instalou ao meu lado, entre eu e Fabio. Ele
se aproximou de mim, olhou bem nos meus olhos e disse baixo o suficiente para
somente eu ouvir.
- Cervejas não estão sendo excluídas da sua agenda? – Sinto
seu hálito doce em meu rosto e meu coração para. Preciso fazer meu cérebro
voltar a pensar. Olho em seus olhos escuros e respondo no mesmo tom baixo.
- Prefiro cervejas ao invés de cafezinhos. – Uma grande
mentira. Dou um sorriso e desvio o olhar. Estamos próximos demais e isso é
perigoso.
Fabio puxa conversa com Mauricio e eu olho para Lia
querendo explicações, ela me garantiu que este não era o local que Mauricio
costumava frequentar. Ela da de ombros pra mim, fazendo expressão de que está
tão surpresa quanto eu. Começa tocar uma música linda e alguns casais vão para
a pequena pista para dançar. Fábio se levanta e me convida para dançar. Não sou
muito boa nisso, mas faço qualquer coisa para sair um pouco daquela mesa. Pego
sua mão me levanto e nos dirigimos para a pista.
Aproveito ao máximo a música
com o Fábio. Tento evitar olhar para a mesa, mas todas as vezes que olho dou de
encontro com os olhos de Mauricio. Um olhar que faz arrepiar cada fio do meu
cabelo. Eu não quero sentir isso. Eu não posso sentir isso. Fábio conduz com graciosidade
a dança e me faz sentir confortável em seus braços. Seria tudo mais simples se
eu sentisse essa atração por Fabio que inclusive é muito lindo. A música
termina e voltamos para a mesa. Preciso encontrar algum pretexto para fugir.
Antes que euperca o controle da situação. É difícil pensar com Mauricio próximo
e não quero fracassar. Todos continuam conversando, Marcelo vai dançar com a
Tatiana e Fabio vai dançar com a Lia. Eu me levanto e falo rapidamente:
- Adorei a companhia de você, mas já estou indo. – Pego minha bolsa para
ir pra casa e Mauricio segura a minha mão, me olha bem nos olhos e diz:
- Desculpe, mas não vou deixar você ir embora sem antes me conceder o
privilégio de uma dança.
Antes que eu pudesse dizer algo ele já estava me conduzindo para a pista
de dança. Sua mão segurando a minha e todas as minhas veias pulsando com o
toque. Mauricio me segurou próximo demais de seu corpo lindo e começamos a
dançar. Eu mal conseguia sentir minhas pernas e meu cérebro havia se evaporado.
Isso não podia estar acontecendo, faz parte de seu plano para me conquistar e
eu não posso me deixar envolver. Ele está perto demais. Da pra sentir sua
respiração quente em meu rosto. Sinto minha barriga gelar.
- Você está muito linda. – Ele fala em meu ouvido e eu me derreto por
dentro. Realmente ele sabe conquistar uma mulher, essa era sua especialidade.
Mas, eu vou continuar firme porque sei que se eu me entregar não vou me perdoar
depois.
- Obrigada. – Respondo, tentando agir o mais natural possível, apesar de
estar sendo bastante difícil. Continuamos dançando em silêncio, apenas ouvindo
a respiração um do outro. A música termina e caminhamos até a mesa. Mauricio me
conduz colocando sua mão sobre as minhas costas. Esse gesto fez meio corpo
inteiro se arrepiar. Quando chegamos a mesa imediatamente peguei a bolsa e me
despedi de todos.
- Obrigada pela companhia esta noite. Mas preciso ir.
Fábio pediu para eu ficar mais um pouco, eu disse educadamente que
precisava ir mesmo e ele não insistiu. Se ofereceu para me levar para casa e eu
também não aceitei. Me virei e fui até o caixa pagar minhas cervejas. Eu estava
abrindo a carteira quando Mauricio chegou ao meu lado dizendo:
- Pode deixar por minha conta todas as bebidas da mesa 6. – Ele colocou
uma nota de cem reais no balcão e continuou. – E pode ficar com o troco.
Eu até pensei em discutir a situação, mas seria muito desgastante. Por
isso somente agradeci e sai do barzinho. Percebi que Mauricio vinha atrás. Já
na calçada senti o ar fresco da noite. Continuei andando com passos largos fingindo
que não o havia percebido. De repente sinto sua mão segurando meu braço. Eu
paro e ficamos de frente um para o outro.
- Eu levo você para casa. Não é seguro uma mulher tão linda andar
sozinha por aí. – Ele deu um meio sorriso e meu coração acelerou.
- Não se preocupe comigo. Posso ir caminhando são só dois quarteirões e
as ruas estão bem movimentadas. Nada vai acontecer. – Começo a andar e ele
outra vez segura meu braço. Será que ele tem consciência do que seu toque esta
causando em mim e esta fazendo de propósito?
- Espere! Parece que você está fugindo de mim? – Ficamos de frente um
para o outro novamente.
- Não estou! Por quê? Eu deveria fugir? – Faço uma expressão de
questionamento e Mauricio parece pensar na pergunta, mas não faço mínima idéia
do que esteja pensando.
- Não me considero perigoso. – Seu olhar ficou gelado, seu rosto não
demonstrou nenhum sentimento. – Se você ainda está chateada pelo incidente do
elevador... – Não o deixei terminar interrompendo sua fala.
- O episódio do elevador já ficou para trás. – Estou com vontade de dizer
que ele é um maluco que aproveita da sua beleza e charme para fazer as mulheres
sofrerem e que eu o abomino por isso. E principalmente que se eu me envolver eu
vou sofrer e ele não merece o meu sofrimento. Mas guardei tudo isso para mim e
resolvi simplificar a conversa. – A questão é a seguinte. Você é o chefe do
escritório e eu sou a estagiaria e é assim que vai continuar sendo.
- Tudo bem! - Mauricio da um passo para traz levantando as mãos em sinal
de defesa. – Mas, eu sou o chefe e você é a estagiaria lá dentro no escritório.
– Ele dá um sorriso encantador. – Aqui fora eu sou o Mauricio e você é a
Cristina.
Eu adorei ouvir sua boca pronunciar meu nome. Mas,
para o meu bem eu não posso adorar nada nele. Eu preciso é me livrar de uma vez
dele antes que eu não resista mais ao seu charme.
- Bom argumento. Mas isso não muda nada. Uma boa noite
pra você. – Dessa vez me viro com mais rapidez e começo a caminhar. Mauricio
caminha ao meu lado.
- É claro que eu preferia te levar de carro, mas, se você
prefere assim, eu te acompanho a pé. – Eu o fuzilei com os olhos e antes que eu
pudesse impedir sua companhia ele ergueu as mãos outra vez e disse rindo. – A
rua é pública.
Me obriguei a rir também. Ele estava certo, a rua é
pública. Nós caminhamos lado a lado em silêncio. Ele parecia perdido em seus
pensamentos e eu nos meus. O que está acontecendo comigo? A última coisa que
poderia acontecer comigo nesse momento era eu me apaixonar. E pior ainda. Me
apaixonar por Mauricio Anton, meu chefe que pelo jeito não entende nada de
amor. Sua presença me deixa muito desconcertada. Já vivi alguns romances e
paqueras na escola, mas nada que senti até hoje foi tão intenso. Nunca um toque
me fez arrepiar dessa forma fazendo meu cérebro parar de funcionar. Até agora
foram somente algumas palavras, uma dança e sua grosseria no elevador. E eu sei
que para minha sanidade mental não pode passar disso. Mas estou muito mais
envolvida do que deveria. Estou tão perdida em meus pensamentos que nem percebi
que já estávamos próximo do meu apartamento. Muitas pessoas ainda estão pelas
ruas, conversando, passeando, casais de mãos dadas, crianças tomando sorvete,
adolescentes sentados nos encostos dos bancos. Uma lua linda no céu e muitas
estrelas brilhando. Uma noite perfeita para um romance. Pena que falta o
príncipe. Espanto meus pensamentos e digo:
- Pronto. Tarefa cumprida. Já estou em casa em
segurança. – Paramos em frente ao prédio
de seis andares. Ele se aproximou um pouco mais, quase demais e diz:
- Vai me convidar para subir? Podermos conversar melhor
sobre a questão chefe e estagiaria.
- Acredito que a melhor resposta é ‘não’. Boa noite Mauricio!
– Me virei para entrar no prédio e ele me segurou pelo braço mais uma vez, ele
só pode estar fazendo isso de propósito. Com agilidade ele me virou de volta e
nossos corpos ficaram próximo demais. Da pra sentir seu hálito fresco em meu
rosto. Ele vai me beijar e eu não tenho forças para lutar contra. Seu rosto se
aproxima ainda mais do meu e ele beija o canto da minha boca e sussurra:
- Boa noite então. Durma bem.
Meu corpo todo estava extasiado. Eu não consigo pensar,
falta ar nos meus pulmões. Com a mesma agilidade que Mauricio me segurou ele me
soltou. Me deixou parada sozinha no meio da calçada. Ele se virou e saiu
caminhando sem olhar para trás. Fiquei ali parada no mesmo lugar por mais algum
tempo. Estava tentando entender o que aconteceu. Ele podia ter me beijado e não
me beijou. Foi melhor assim. Preciso acreditar que foi melhor assim. Entro no
meu apartamento e sinto a solidão bater. Vou para a cama e cenas da noite
passam pela minha cabeça. Adormeço.
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