sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Capítulo Três - 1ª parte


Sábado de manhã. Estou sozinha no apartamento. Fico rolando na cama por mais tempo. É gostoso não ter horário para levantar. Depois dessa semana o que eu mais precisava era a cama como minha única e exclusiva companhia. Começo a pensar em Mauricio. Como ele mexe comigo. Tento lembrar dos meus outros romances, mas nada se compara com o que eu sinto quando estou perto dele. Calafrios na barriga, as mãos começam a suar, o coração dispara, a respiração fica ofegante. Comecei a lembrar do meu ex-namorado da minha cidade natal, Carlos Munhoz. Nós namoramos por quase um ano e terminamos depois que eu vim estudar em Florianópolis. Nós até tínhamos prometido um para o outro que quando eu voltasse nos casaríamos. Mas, o que eu sentia e ainda sinto por Carlos nem se compara com os sentimentos  que Mauricio desperta em mim. Só de pensar em sua boca tão próxima da minha já sinto um frio na barriga. Por que por Mauricio? Seria muito mais tranquilo eu me apaixonar pelo Fabio, que também é lindo e muito gentil. E o pior é que esses sentimentos não poderão passar de sentimentos e eles ficarão todos guardados somente para mim.

Procuro ao máximo afastar Mauricio dos meus pensamentos. Me levanto. Tomo um banho demorado. Visto uma roupa leve e confortável e saio para ir a padaria tomar meu café da manhã. Lembro que menti para Mauricio sobre minha preferência a cerveja e começo a rir sozinha pela rua. Já são nove horas da manhã e o sol brilha forte no céu. Depois de tomar café quero ir até a livraria buscar os dois livros sobre psicologia que eu encomendei. A padaria fica próximo ao meu prédio. Um espaço pequeno e simples, mas confortável e prazeroso de se estar. Entro e cumprimento o padeiro.

- Bom dia senhor Adão! – Adão é um senhor de aproximadamente cinqüenta anos que é dono da padaria e está sempre bem disposto para atender seus clientes.

- Bom dia senhorita Cristina! O que vai ser pra hoje?

- Café com leite e torradas.

- Não há vi esta semana. Está tudo bem?

- Comecei a trabalhar e os horários estão corridos. – Adão tratava seus clientes como se fossem da família. Talvez seja por isso que sua padaria era sempre muito bem requisitada.

Sentei numa mesa no canto próximo da janela para poder observar o movimento de pessoas. Adão trouxe meu pedido e comecei a saborear meu café da manhã. Todo sábado fazia questão de tomar café na padaria pelo prazer de saborear o café em outro ambiente. Minhas colegas de apartamento nunca me acompanhavam, pois não conseguiam sair da cama antes das onze da manhã.  Distraída levei um susto quando ouvi meu nome.

- Bom dia Cristina!

Meu susto foi maior ainda quando vi quem havia falado meu nome. Mauricio Anton estava lindamente parado na minha frente. Eu estou sonhando ou esse cara realmente é um colecionador ávido. Não desiste tão fácil.

- Posso sentar? – Ele apontou para a cadeira.

- O que você está fazendo aqui? – Está pergunta soou um pouca idiota. Mas ele não costuma frequentar este lugar, nunca o vi aqui.

- Acho que vim fazer o mesmo que você, tomar café da manhã. – Não era essa a resposta que eu estava esperando e o pior é que ele sabe disso. Seu riso de divertimento me fez corar. Perguntei novamente:

- Você não costuma frequentar este lugar? – Foi mais uma afirmação do que uma pergunta.

- Comecei a frequentar hoje. E me parece um lugar agradável para começar uma manhã de sábado. – Ele apontou novamente para a cadeira. – Posso sentar com você ou prefere que eu vá para outra mesa?

O mais sensato seria ele sentar em outra mesa. Manter distância. Mas como resistir.

- Desde que você não estrague meu café da manhã. – Respondo dando de ombros.

Mauricio sentou na minha frente e seus olhos estavam devorando os meus. Dava para sentir a energia entre nós. Será que ele também sentia a mesma coisa. Me pergunto porque ele não é uma cara normal, que paquera, namora, que tem vontade de formar família e ter filhos. Seria tão simples, tão fácil. Uma vida perfeita. Para minha infelicidade, nenhuma dessas atribuições estão em seu currículo de vida.

- Sua impressão sobre mim realmente é péssima. – Ele parecia estar lendo minha mente.

- Isso é você que está dizendo. – Retruco. Adão traz seu café da manhã e põe na mesa.

- Pensei que preferia cerveja ao invés de café! – Mauricio estava se referindo a minha mentira e eu não iria desmentir agora.

- Pela manhã prefiro café. – Dou um sorriso.

- É bom saber. Cervejas na sexta a noite e cafés no sábado de manhã cabem em sua agenda. – Ele dá um gole demorado em seu café esperando minha resposta. Seu olhar quer dizer alguma coisa, mas não consigo decifrar o que é.

 - Isto é uma cobrança? – Perguntei fechando meu rosto. Quem ele pensa que é para querer saber o que faço ou deixo de fazer.

- Não é uma cobrança. Apenas uma observação. Uma vez que nas quartas o café no final da tarde não são de sua preferença. Agora tenho outras opções.

- É impressão minha ou você está ressentido por eu não ter aceito seu convite na quarta.

Ele não respondeu, apenas ficou me encarando enquanto comia suas bolachas. Se não respondeu é porque eu estou certa. Ele está ressentido por ter levado um não. Coisa que com certeza não acontecia com ele todos os dias. Já que as mulheres caem sobre seus pés. E seu plano é me conquistar a qualquer custo para não ficar com seu elo abalado. Quebro o silêncio tentando uma conversa mais natural.

- Gostou do lugar?

- Hã! Aconchegante. Melhor do que qualquer lugar é a companhia que temos.

- Você não desiste mesmo. – Reviro os olhos.

- Desisto do quê? – Ele dá de ombros fazendo de conta que não estava entendo.

- De flertar comigo.  

- E você gosta? – Sinto minhas bochechas ficarem vermelhas. Meu cérebro novamente se evaporou e eu não encontro nenhuma resposta plausível. Mauricio percebe meu embaraço e parece se divertir com a situação.

- Você já tem planos para hoje? – Mauricio parece mais sério agora. Planos para hoje? Não havia pensado nada em especial.

- Estudar, assistir algum filme talvez. – Respondo. Minha razão está gritando em meus ouvidos para eu dispensá-lo de uma vez. Mas todos os meus outros sentidos querem o contrario.

- Podemos almoçar juntos e a tarde tenho um lugar bacana para te mostrar. – Ele dá um meio sorriso que me deixa sem chão. A proposta é tentadora. Almoçar com Mauricio Anton e passear juntos à tarde. É claro que eu aceitaria se não soubesse suas verdadeiras intenções. E pior que isso, é que eu sei que vou querer repetir os passeios e isso não vai acontecer. E eu vou sofrer e ele vai continuar tocando sua vida. Eu sei que estou a beira de um precipício e parte de mim quer se jogar.

- Desculpe! – Desvio o olhar. – Estou com conteúdos pendentes da faculdade e preciso me concentrar nos estudos. Não vou poder aceitar seu convite. – Não consigo encará-lo. Meu inconsciente aprova minha atitude. Mantenha ele a distancia.

- Eu que peço desculpas. Mas vou insistir. – Mauricio pega minha mão e meu coração gela. Ergo o olhar e encontro seus olhos me encarando. Sua expressão séria me derrete por dentro. – Não acredito que você não se permita se divertir um pouco.

Tiro a minha mão da sua e repito.

- Estou falando sério. Tenho muito o que estudar.

- Também estou falando sério. E sei ser muito insistente. – Mauricio não tira os olhos de mim.

O que eu faço. Eu adoraria sair com Mauricio. Conhecê-lo melhor. Mas, tenho medo de me machucar, de sofrer. Eu sei qual é o seu jogo e suas regras não me agradam em nada. A menos que eu não permita que aconteça nada além de um almoço. Aceitar almoçar com Mauricio não quer dizer que eu vou ficar com ele. Eu vou precisar manter o foco para jogar esse jogo perigoso demais. Mauricio está esperando minha resposta enquanto brigo com meus pensamentos.

- Tudo bem. Aceito almoçar com você, mas, com uma condição. – Digo olhando em olhos. – Eu não vou ficar com você. – Fico com as bochechas vermelhas. Mauricio arregala os olhos. Ele está digerindo minha resposta. Será que ele vai aceitar o combinado. E se aceitar será que vai cumprir. Por fim ele diz dando um sorriso:

- Combinado.