quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Capítulo Dois - 4ª parte


- Adorei a companhia de você, mas já estou indo. – Pego minha bolsa para ir pra casa e Mauricio segura a minha mão, me olha bem nos olhos e diz:

- Desculpe, mas não vou deixar você ir embora sem antes me conceder o privilégio de uma dança.

Antes que eu pudesse dizer algo ele já estava me conduzindo para a pista de dança. Sua mão segurando a minha e todas as minhas veias pulsando com o toque. Mauricio me segurou próximo demais de seu corpo lindo e começamos a dançar. Eu mal conseguia sentir minhas pernas e meu cérebro havia se evaporado. Isso não podia estar acontecendo, faz parte de seu plano para me conquistar e eu não posso me deixar envolver. Ele está perto demais. Da pra sentir sua respiração quente em meu rosto. Sinto minha barriga gelar.

- Você está muito linda. – Ele fala em meu ouvido e eu me derreto por dentro. Realmente ele sabe conquistar uma mulher, essa era sua especialidade. Mas, eu vou continuar firme porque sei que se eu me entregar não vou me perdoar depois.

- Obrigada. – Respondo, tentando agir o mais natural possível, apesar de estar sendo bastante difícil. Continuamos dançando em silêncio, apenas ouvindo a respiração um do outro. A música termina e caminhamos até a mesa. Mauricio me conduz colocando sua mão sobre as minhas costas. Esse gesto fez meio corpo inteiro se arrepiar. Quando chegamos a mesa imediatamente peguei a bolsa e me despedi de todos.

- Obrigada pela companhia esta noite. Mas preciso ir.

Fábio pediu para eu ficar mais um pouco, eu disse educadamente que precisava ir mesmo e ele não insistiu. Se ofereceu para me levar para casa e eu também não aceitei. Me virei e fui até o caixa pagar minhas cervejas. Eu estava abrindo a carteira quando Mauricio chegou ao meu lado dizendo:

- Pode deixar por minha conta todas as bebidas da mesa 6. – Ele colocou uma nota de cem reais no balcão e continuou. – E pode ficar com o troco.

Eu até pensei em discutir a situação, mas seria muito desgastante. Por isso somente agradeci e sai do barzinho. Percebi que Mauricio vinha atrás. Já na calçada senti o ar fresco da noite. Continuei andando com passos largos fingindo que não o havia percebido. De repente sinto sua mão segurando meu braço. Eu paro e ficamos de frente um para o outro.

- Eu levo você para casa. Não é seguro uma mulher tão linda andar sozinha por aí. – Ele deu um meio sorriso e meu coração acelerou.

- Não se preocupe comigo. Posso ir caminhando são só dois quarteirões e as ruas estão bem movimentadas. Nada vai acontecer. – Começo a andar e ele outra vez segura meu braço. Será que ele tem consciência do que seu toque esta causando em mim e esta fazendo de propósito?

- Espere! Parece que você está fugindo de mim? – Ficamos de frente um para o outro novamente.

- Não estou! Por quê? Eu deveria fugir? – Faço uma expressão de questionamento e Mauricio parece pensar na pergunta, mas não faço mínima idéia do que esteja pensando.

- Não me considero perigoso. – Seu olhar ficou gelado, seu rosto não demonstrou nenhum sentimento. – Se você ainda está chateada pelo incidente do elevador... – Não o deixei terminar interrompendo sua fala.

- O episódio do elevador já ficou para trás. – Estou com vontade de dizer que ele é um maluco que aproveita da sua beleza e charme para fazer as mulheres sofrerem e que eu o abomino por isso. E principalmente que se eu me envolver eu vou sofrer e ele não merece o meu sofrimento. Mas guardei tudo isso para mim e resolvi simplificar a conversa. – A questão é a seguinte. Você é o chefe do escritório e eu sou a estagiaria e é assim que vai continuar sendo.

- Tudo bem! - Mauricio da um passo para traz levantando as mãos em sinal de defesa. – Mas, eu sou o chefe e você é a estagiaria lá dentro no escritório. – Ele dá um sorriso encantador. – Aqui fora eu sou o Mauricio e você é a Cristina.

    Eu adorei ouvir sua boca pronunciar meu nome. Mas, para o meu bem eu não posso adorar nada nele. Eu preciso é me livrar de uma vez dele antes que eu não resista mais ao seu charme.

- Bom argumento. Mas isso não muda nada. Uma boa noite pra você. – Dessa vez me viro com mais rapidez e começo a caminhar. Mauricio caminha ao meu lado.

- É claro que eu preferia te levar de carro, mas, se você prefere assim, eu te acompanho a pé. – Eu o fuzilei com os olhos e antes que eu pudesse impedir sua companhia ele ergueu as mãos outra vez e disse rindo. – A rua é pública.

 Me obriguei a rir também. Ele estava certo, a rua é pública. Nós caminhamos lado a lado em silêncio. Ele parecia perdido em seus pensamentos e eu nos meus. O que está acontecendo comigo? A última coisa que poderia acontecer comigo nesse momento era eu me apaixonar. E pior ainda. Me apaixonar por Mauricio Anton, meu chefe que pelo jeito não entende nada de amor. Sua presença me deixa muito desconcertada. Já vivi alguns romances e paqueras na escola, mas nada que senti até hoje foi tão intenso. Nunca um toque me fez arrepiar dessa forma fazendo meu cérebro parar de funcionar. Até agora foram somente algumas palavras, uma dança e sua grosseria no elevador. E eu sei que para minha sanidade mental não pode passar disso. Mas estou muito mais envolvida do que deveria. Estou tão perdida em meus pensamentos que nem percebi que já estávamos próximo do meu apartamento. Muitas pessoas ainda estão pelas ruas, conversando, passeando, casais de mãos dadas, crianças tomando sorvete, adolescentes sentados nos encostos dos bancos. Uma lua linda no céu e muitas estrelas brilhando. Uma noite perfeita para um romance. Pena que falta o príncipe. Espanto meus pensamentos e digo:

- Pronto. Tarefa cumprida. Já estou em casa em segurança.  – Paramos em frente ao prédio de seis andares. Ele se aproximou um pouco mais, quase demais e diz:

- Vai me convidar para subir? Podermos conversar melhor sobre a questão chefe e estagiaria.

- Acredito que a melhor resposta é ‘não’. Boa noite Mauricio! – Me virei para entrar no prédio e ele me segurou pelo braço mais uma vez, ele só pode estar fazendo isso de propósito. Com agilidade ele me virou de volta e nossos corpos ficaram próximo demais. Da pra sentir seu hálito fresco em meu rosto. Ele vai me beijar e eu não tenho forças para lutar contra. Seu rosto se aproxima ainda mais do meu e ele beija o canto da minha boca e sussurra:

- Boa noite então. Durma bem.

Meu corpo todo estava extasiado. Eu não consigo pensar, falta ar nos meus pulmões. Com a mesma agilidade que Mauricio me segurou ele me soltou. Me deixou parada sozinha no meio da calçada. Ele se virou e saiu caminhando sem olhar para trás. Fiquei ali parada no mesmo lugar por mais algum tempo. Estava tentando entender o que aconteceu. Ele podia ter me beijado e não me beijou. Foi melhor assim. Preciso acreditar que foi melhor assim. Entro no meu apartamento e sinto a solidão bater. Vou para a cama e cenas da noite passam pela minha cabeça. Adormeço.

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